Sempre com palavras de conforto e afeto, o pastor Lívio traz aos personagens de “Renascer” uma dose de esperança e otimismo, mesmo quando a vida está difícil. Breno da Matta, o ator que interpreta Lívio, temia que o líder religioso não fosse bem recebido pelo público. Ele observou que muitas pessoas estranharam a presença de um pastor na novela das nove devido ao preconceito.
— Muitos acham que sou pastor de verdade. Lívio é muito certinho e dá “lição de moral”. Em uma sociedade polarizada, tomei cuidado na composição do personagem. Meu receio era que o público desistisse dele antes de qualquer coisa. As pessoas logo pensam no estereótipo negativo do pastor. Os evangélicos são muito diversos, mas sempre são vistos como uma coisa só. Existem os que disseminam ódio e intolerância, mas também há aqueles que escutam e entendem as diferenças — comenta Breno, que se considera do candomblé, mas estudou outras religiões para interpretar o líder protestante.
Nascido em Itabuna, Bahia, Breno se mudou para Salvador aos 15 anos com os pais, Vandira e Rodrigão, e o irmão, Bruno. Antes de estrear na TV na trama de Bruno Luperi, o ator enfrentou momentos de superação. Criado por uma família humilde no bairro de Alagados, uma área pobre de Salvador construída sobre um manguezal, Breno contou com o apoio dos pais, que se esforçaram para proporcionar uma boa educação aos filhos.
— Tive duas tias que morreram de fome na infância. Meus pais foram os primeiros da família a fazer faculdade (Engenharia Agrônoma). Minha mãe se sacrificava para que a gente estudasse em colégio particular. Houve um período em que passamos muitas dificuldades, mas nunca passei fome. Eu não tinha o melhor sapato, mas tinha um sapatinho. Eu não tinha a melhor roupa, mas tinha uma roupinha — relata o ator de 41 anos, que ainda não realizou seu grande desejo: — Meu sonho é ter uma casa própria, mas não sei quando vou conseguir. Quem vem de família negra e pobre prioriza a compra do imóvel porque, independentemente do que acontecer, tem um teto. Também quero viajar muito e proporcionar mais conforto aos meus pais na velhice. Minha mãe é a pessoa mais feliz do mundo ao me ver na novela. Na festa de lançamento, ela foi comigo e ficou com um sorriso de orelha a orelha. Quando viu Marcos Palmeira (o José Inocêncio no folhetim), ficou louca. A foto de WhatsApp dela é a selfie com ele (risos).
Se hoje Breno chama atenção em “Renascer” por sua beleza, recebendo inúmeros comentários em suas redes sociais, especialmente de senhoras que assistem à novela, na infância e adolescência o artista enfrentou problemas com a autoestima.
— Cresci me sentindo feio. Era o patinho feio no melhor colégio da cidade. Eu era o negro da classe média baixa, então, não era interessante. Na adolescência, não pegava ninguém na escola. Só comecei a me ver como um homem bonito quando fui morar em Salvador, uma cidade majoritariamente preta. Comecei a ser assediado. As meninas ficavam me esperando na porta do prédio onde eu morava e me davam cantadas como se fossem pedreiros, me chamando de gostoso. Eu não sabia lidar com isso. Só fui dar meu primeiro beijo aos 15 anos. A autoestima sempre foi uma questão. Hoje, se eu boto um moletom, não sou um galã, e sim, um ladrão. Quando ando na rua, as pessoas atravessam para o outro lado, seguram suas bolsas… Tenho características que “aliviam”, como o cabelo liso e os traços finos. As pessoas acham que eu não sou brasileiro, mas indiano. Me sinto bonito, mas sei que muita gente não acha isso — afirma ele, que posou na praia para a Canal Extra, de uma forma bem diferente da que Lívio é visto no horário nobre.
Confira as fotos do ensaio.
Fotos: Márcio Farias